Durante uma caminhada pela floresta, Shea e Flick se deparam com um homem estranho. Eles o ajudam a chegar até sua vila e lá ficam sabendo que ele é Allanon, um druida. Ele veio até lá buscar ajuda para deter um mal que se aproxima do reino.
Sinopse:
Há muito tempo as Grandes Guerras do Passado arruinaram o mundo.
Vivendo no pacífico Vale Sombrio, o meio-elfo Shea Ohmsford pouco sabe sobre esses conflitos. Mas o Lorde Feiticeiro, que todos julgavam morto, planeja regressar e destruir o mundo para sempre. A única arma capaz de deter esse poder da escuridão é a Espada de Shannara, que pode ser usada somente por um herdeiro legítimo de Shannara. Shea é o último dessa linhagem e é sobre ele que repousam as esperanças de todas as raças.
Por isso, quando um aterrorizante Portador da Caveira a serviço do mal voa até o Vale Sombrio, Shea sabe que começará a maior aventura da sua vida.
Humildade. Uma simples palavra que significa muito. Nem sempre nós conseguimos compreendê-la de fato. Humildade implica austeridade, sinceridade e a compreensão de que todos nós temos limites que nem sempre somos capazes de superar. É com essa pequena palavra que eu começo minha resenha de A Espada de Shannara. Algumas vezes culpamos o autor ou o tradutor por um livro pelo qual não fomos capazes de compreender. Este foi o caso aqui. Eu não gostei de A Espada de Shannara. Porém eu compreendi que Terry Brooks escreveu em uma outra época (o livro foi publicado pela primeira vez em 1977) e ele foi o pioneiro no gênero de fantasia.
O protagonista da história é Shea Ohmsford, um jovem que vive no Vale Sombrio ao lado de seu amigo Flick. Certo dia, Flick encontra um estranho vestido de capuz o qual Flick leva até sua vila. Este estranho revela ser Allanon, um druida conhecedor da história do mundo. Ele veio até o Vale Sombrio em busca de Shea. Segundo ele, Shea tem um destino a cumprir: ele é o único ser no mundo capaz de brandir a poderosa espada de Shannara. Essa espada é a única arma no mundo capaz de ferir Brona, o lorde Feiticeiro que planeja destruir os quatro reinos, dominando o mundo, levando-o à beira da escuridão. Shea não acredita a princípio, mas quando ele vê perseguido pelos Portadores da Caveira, ele sai atrás de Allanon, que havia desaparecido dias antes. Shea, Flick e seu aliado Menion Leah, príncipe de Leah precisam correr até Callahorn onde de lá eles partirão em busca da espada de Shannara, guardada na Fortaleza dos Druidas. Mas, os aventureiros descobrirão que Allanon é um homem de meias verdades e aquilo que ele não diz pode representar um perigo mortal.
Pois bem, aqui temos um autor que ajudou a difundir o gênero de fantasia em uma época em que muito pouco era produzido. Minha maior dificuldade com essa obra foi a escrita. Brooks tem um estilo de escrita muito diferente daquela que estamos acostumados. A maneira como ele conduz a história é mais devagar e descritivo. Sua narrativa é em uma terceira pessoa, mas em um estilo onde podemos saber o que todos no cenário estão pensando, falando e sentindo. Não tem um ponto de vista fixo, o autor escolhe quem ele se refere. Mesmo os capítulos sendo curtos, os parágrafos são muito longos e descritivos, tornando a leitura extremamente cansativa. A escrita do Brooks remete aos clássicos de Tolkien e Edgar Rice Burroughs. A forma como Burroughs escreve A Princesa de Marte lembra muito o estilo de escrita do Brooks. A minha recomendação àqueles que pretendem se embrenhar no universo de Brooks é não subestimar a leitura do livro. Ele não é um livro simples, apesar do enredo ser bem jovial e aventuresco. A trama é linear e não existem plot twists que estamos tão acostumados nos dias de hoje. A Espada de Shannara vai fornecer aos leitores tudo aquilo que eles esperam de um livro do gênero.
A ambientação é muito interessante. Brooks mistura o estilo tradicional de fantasia com alguns elementos de ficção científica. Neste primeiro volume não dá para perceber esta presença de maneira muito forte. O autor deixa para trabalhar estes elementos mais posteriormente. Senti que Brooks quis explicar demais a ambientação e isso acabou prejudicando a dinâmica da história. Muitos capítulos acabam servindo apenas para explicar algum aspecto da história do mundo. Allanon é usado para dar estas longas palestras. Entretanto, tudo o que conhecemos dos universos de fantasia e até de RPGs de mesa estão presentes neste livro: gnomos, elfos, druidas, feiticeiros, trolls. O fato de Brooks ter esgotado todas as suas explicações neste primeiro livro pode ser um sinal de que em outros livros ele não terá a necessidade para tal.
Um elemento que me incomodou muito foi a ausência quase total de mulheres em qualquer papel no enredo. Salvo a prometida de Palance, roubada por Menion, não existem mulheres. Nenhuma... Isso remeteu aos pulps da década de 1920 quando as histórias eram centradas no homem branco defendendo a verdade, a justiça e o American way. Shea tem muito desses herois antigos e as mulheres acabam se tornando secundárias ou desprovidas de importância. O próprio Brooks reconheceu o problema e procurou amenizar isto em títulos posteriores da série. Não pensem que o Brooks é um machista; nada disto, ele apenas repetiu a postura seguida por outros autores.
Os personagens são bem trabalhados apesar de o foco da história ficar mais em Shea e Allanon. Existem alguns desenvolvimentos feitos neste livro, mas A Espada de Shannara demonstra o quanto Terry Brooks era muito verde na época em que escreveu o livro. Este é mais um fator atenuante: este foi o livro de apresentação do autor que foi selecionado pelo próprio Lester del Rey que ficou encantado com a maneira como ele movia os personagens de um ponto a outro. Lester adorou também a ambientação. É impossível não comparar A Espada de Shannara com Senhor dos Aneis de J.R.R. Tolkien. As duas obras são parecidas e Brooks admitiu ter se inspirado no mestre da fantasia. Ambos cobrem uma jornada em que um artefato poderoso é o diferencial em uma guerra entre o bem e o mal. Porém, enquanto Senhor dos Aneis vai adotando uma postura sombria ao longo da trilogia, Brooks mantém o espírito de aventura tão típico de sua obra. A construção de mundo também é muito bem feita por ambos os autores, mas Brooks não se preocupa em criar toda uma língua específica que caracterize uma raça. Vamos nos lembrar de que Tolkien era um emérito professor de literatura e línguas antigas.
A Espada de Shannara é um delicioso mergulho a um modelo de escrita que já não se vê nos dias de hoje. Eu tive dificuldades em lidar com essa escrita, mas isto não age em detrimento da obra. A ambientação é fenomenal e deixa muito a ser trabalhado em outros volumes da série. Brooks é um autor fenomenal e devemos toda esta febre de fantasia a ele que foi pioneiro na escrita de obras do gênero.
Ficha Técnica:
Nome: A Espada de Shannara
Autor: Terry Brooks
Série: Trilogia de Shannara vol. 1
Editora: Arqueiro
Gênero: Fantasia
Tradutora: Ana Cristina Rodrigues
Número de Páginas: 620
Ano de Publicação: 2014
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