Lynore e Reyrón são duas cavaleiras, mestra e aprendiz, que são contactadas para investigar a presença de sereias fora de seu lugar de origem. Quando elas seguem para o lugar, a ligação entre as duas serão testadas assim como sua vida será colocada em risco.
Sinopse:
Quando sereias mortas surgem nos mares de Nyskar, a Irmandade da Luz decide enviar uma cavaleira e sua pupila para investigar o caso. Mas se quiserem desvendar o mistério e sobreviver aos perigos dos mares de Erys, as duas, antes de tudo, terão que superar suas desavenças.
Uma prática que vem se tornado bastante comum entre autores nacionais é o de publicar pequenas histórias passadas em um mundo que eles estão criando. O objetivo é testar o mercado e o público antes de lançar o romance maior. É como se fosse um aperitivo antes de apresentar o prato principal. Na maior parte das vezes isto tem funcionado bem, não apenas para criar uma expectativa como também para que o autor possa experimentar sua escrita e verificar quais os pontos mais vulneráveis.
A escrita do Renan Santos é bem direta e simples. Com uma narrativa em primeira pessoa ele nos apresenta o mundo sob a perspectiva de Reyrón, aprendiz de Lynore, uma espécie de cavaleira e bióloga marinha. Ele emprega um bom encadeamento de frases o que torna a história bem rápida de se ler. Eu até cheguei a enrolar um pouco para fazer a história render um pouco mais. Isso é muito positivo, pois permite ao leitor continuar a passar as páginas querendo saber o que se passa a seguir. E também cria a empatia com os personagens que é fundamental. Os capítulos são bem distribuídos, compondo cenas específicas onde os acontecimentos se sucedem.
Os diálogos também são muito bons, quase naturais. Digo isso porque em uma novella que funciona como uma apresentação para algo maior, o autor tem um curto espaço para mostrar para o que veio. O info dumping aqui é necessário e Renan soube muito bem dosar isso. Ele conseguiu passar todas as informações necessárias para compreendermos o mundo onde a história se passa sem ser cansativo. Então, ponto para o autor em algo que é extremamente difícil de se fazer. Tirei uma corujinha de escrita porque eu acho que o autor poderia ter sido um pouco mais ousado na composição da narrativa. Ele brinca com isso ao introduzir a narradora como estando presa a um voto em que ela não podia falar (ele comenta isso logo na página 3... não é spoiler). E a narrativa no começo está riquíssima com isso porque ele acaba precisando encontrar outras maneiras de fazer a personagem interagir com o mundo. Mas, daqui a alguns capítulos ele faz a personagem falar novamente. Teria sido perfeito se ele tivesse deixado a personagem muda até o final da novella e só lá a mestra poderia ter elogiado a dedicação da personagem ou algum outro truque de narrativa. Só por isso não foi uma leitura 100% perfeita, mas o autor está de parabéns com uma escrita incrível.
Quanto aos personagens temos um foco na relação de mestra e aprendiz. Isso já foi trabalhado inúmeras vezes, mas como eu sempre digo, não é o clichê que conta, mas a forma como você o emprega. E aqui o autor emprega-o muito bem. Esse aliás é o tema principal da narrativa. Cada uma das personagens carrega um passado turbulento. A relação que se forma entre elas é mais do que a de uma mestra e aprendiz. Quando essa relação começa a transparecer mais, aí é que os problemas começam a acontecer. É necessário que elas conversem a respeito de como equacionar a situação ou demonstrar o que sentem uma pela outra. Vai ser nesse sentido que o autor vai trabalhar a história. O problema das sereias vai ser uma desculpa para colocar ambas em testes de caráter. Claro que o conflito vai deixar uma série de pequenas sementes a serem trabalhadas em outras histórias.
Os personagens de fundo também são bem trabalhados. Não chegam a ser aprofundados, mas também não ficam como elementos de cenário. Até mesmo o "par romântico" de Reyrón tem uma função importante na história. E eu acho que isso é o que dá mais qualidade à narrativa do autor: nenhum personagens está ali por nada. Existe toda uma série de figuras que parecem estar ao redor das personagens, a fortaleza, a irmandade, elementos de narrativa que mesmo ao fundo possuem alguma importância para os personagens.
Gostei bastante da narrativa. É como se fosse uma quest dentro de uma jornada maior, mas apresentada de uma maneira encerrada em si mesma. Se o leitor não quiser ler mais nada do autor, okay, vida que segue. Mas, se você, assim como eu, ficou curioso por ler mais histórias passadas neste mundo, ele deixa muito para ser resolvido em outras histórias. Solta pequenas sementes como os talismãs, as próprias sereias e a mudança de cenário das protagonistas. A história foi construída a partir de uma estrutura em três atos. E todos são muito bem delimitados fazendo com que não existam barrigas na história. Dentro da proposta posta pela novella, a estrutura ficou bem encaixada. Talvez em um romance maior isso não venha a funcionar por inteiro, mas mesmo assim eu gostei bastante.
Vale mencionar os apêndices que existem no final da história que dão uma riqueza maior ao mundo que o Renan está construindo. Muito legal saber que ele trabalhou em um sistema de magias instigante e que pode até gerar algumas boas histórias e em um calendário específico para o mundo. Aqueles que gostam, como eu, de construção de mundo, é uma ótima pedida.
Enfim, tirando a pequena crítica que eu fiz no começo da resenha, a história é de alta qualidade. Está a um preço muito bom na Amazon e eu recomendo bastante. Estou aqui aguardando novas histórias nesse mundo. As protagonistas são personagens incríveis e a história gira em torno da relação de ambas. O mundo é rico em detalhes e o info dumping é feita suavemente. Uma boa opção de fantasia para os fãs do gênero e uma leitura bem rápida.
Ficha Técnica:
Nome: A Canção das Sereias
Autor: Renan Santos
Editora: Pictos
Gênero: Fantasia
Número de Páginas: 78
Ano de Publicação: 2017
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