Todos os anos eu comento um pouco sobre como foi o meu trabalho com incentivo à leitura na escola onde eu trabalho e em uma outra postagem, quais são os meus planos para o ano seguinte. Venham conferir como foi o trabalho com literatura fantástico em 2018.
O ano de 2018, mesmo com todos os seus percalços, foi um ano muito positivo para o corpo docente do C.E. Professora Eliana de Almeida Santos. Já falei em postagens anteriores sobre o meu trabalho de incentivo à leitura na escola. Quem ainda não leu, deixo aqui alguns links:
Trabalhando com Incentivo à Leitura na Escola (de 08/07/2017)
Projeto de Incentivo à Leitura na Escola - Continuando os Trabalhos (de 07/10/2017)
Projeto de Incentivo à Leitura na Escola - Novas Apostas (de 09/12/2017)
O Projeto de Incentivo à Leitura na Escola - o 2º Café Literário (de 16/12/2017)
Diários de um Professor: o Chá Literário de Quadrinhos (de 18/06/2018)
Um café literário com Ana Lúcia Merege (de 15/10/2018)
Tivemos uma mudança na direção da escola e as coisas começaram a acontecer de fato este ano. Ao longo do ano, a escola passou por uma profunda alteração em sua estrutura. Não apenas isso como iniciamos também um longo processo de mudança de mentalidade. Com uma direção muito mais flexível e topando as nossas insanidades educacionais, conseguimos realizar inúmeros projetos ao longo do ano. Vou me focar no que eu, que sou professor de História e Sociologia e tenho um projeto de longo prazo de incentivo à leitura, realizei ao longo do ano. Mas, digo de cara que qualquer coisa que eu tenha feito não teria sido possível sem o apoio da direção e dos meus colegas de trabalho.
Com carta branca da minha direção para fazer os meus planejamentos, antes eu me dediquei a conhecer minhas turmas. Em 2018, tive menos turmas à noite e mais pela manhã e tarde. Isso fez com que eu repensasse a maneira como estava atuando junto aos meus alunos. Não bastava apenas apresentar o projeto em duas etapas como eu fazia à noite. Era preciso apresentar algo mais elaborado. E o principal: inserir no conteúdo deles. Então deixei para fazer uma diagnose dos meus alunos para saber com que tipo de público eu estava lidando. Fora que eu peguei algumas turmas a mais no início de abril e tive que correr para deixar o meu conteúdo em dia.
O primeiro bimestre foi dedicado a levar as doações de livros que eu recebi de alguns leitores do Ficções e das minhas próprias já tradicionais doações. Posso dizer com muita alegria no coração que fui capaz de doar 220 livros no início de 2018. Claro que eu deixei a minha colega, Paula, que trabalha na biblioteca, doidinha com a quantidade surreal de livros doados. Agradeço a pessoas como a Torie Morant, que enviou duas caixas de livros para doação (teve mais duas pessoas muito bacanas, mas como elas foram bem discretas, acho que não seria legal identificá-las... acho que a própria Torie vai ficar sem graça ao ser mencionada, mas muito obrigado, menina... você é um anjo). Agradeço também a alguns autores como o Leonardo Reis (autor de Dragões da Tempestade), o Danilo Sarcinelli (autor de Passagem para a Escuridão), a Ana Lúcia Merege (autora de Anna e a Trilha Secreta, a trilogia de Athelgard, Orlando e O Escudo da Coragem e muitos outros) e do Gleyzer Wendrew (autor das Crônicas da Aurora) por enviar seus trabalhos para a nossa escola. Nossa escola precisava dessas doações para modernizarmos e preenchermos lacunas no acervo de lá. Existem muitas lacunas ainda a serem preenchidas, mas folgo em dizer que estamos começando a ficar com um material mais atrativo para os alunos. Os livros presentes lá eram escassos e não havia reposição quando eles sumiam. Além disso, a biblioteca passou por uma bela reforma e deve ficar completa ainda esse ano. Já começamos a fazer mais eventos lá em 2018.
Para mudar um pouco as coisas, fiz um duplo projeto interconectando animações e quadrinhos. Peguei duas turmas e em cada uma discutimos um tema diferente. Para o 1º ano escolhi a animação Persépolis (assim como o quadrinho de Marjane Satrapi) e tratamos do tema do choque cultural, do preconceito e da representatividade. As reações que eu tive foram sensacionais. Tivemos duas aulas de discussões satisfatórias onde os alunos se focaram bastante na questão do papel da mulher na sociedade. A própria animação gera esse tipo de discussões, já que Marjane é bem transparente em suas críticas e na sua própria forma de tocar sua vida. Essa turma em particular subiu muito no meu contexto ao longo do ano e fico feliz em saber que vou voltar a trabalhar com eles agora em 2019.
A outra turma em que trabalhei esse projeto foi o meu terceiro ano. Como estávamos falando de Segunda Guerra Mundial e seu impacto na sociedade ocidental, decidi fazer um contraponto e trabalhar O Túmulo dos Vagalumes, uma animação incrível do Studio Ghibli que trata das famílias japonesas que ficaram para trás no Japão em 1945 e de como os bombardeiros afetaram suas vidas. É um filme cruel e melancólico, escondido em uma carapaça bonita e fofinha. Foi uma covardia absoluta passar esse filme para os meus alunos, mas achei necessário dar esse choque. Eles vivem em uma comunidade marcada pela violência, e muitas vezes acabamos não dando importância para aqueles que ficam para trás. Existem pessoas de carne e osso sofrendo os males daquilo que fazemos. Precisamos ser responsáveis por nossas ações. Não preciso dizer que eu causei o caos na sala, com vários alunos chorando ao final da animação e a discussão foi deixada para uma aula seguinte. Gerou uma boa resposta deles e o impacto foi aquilo que eu esperava de fato. Ok, eu sou malvado mesmo. Mas, considero que nossos jovens merecem a nossa honestidade absoluta e muitas vezes pecamos por tratá-los como crianças. Adolescentes são adultos em formação.
Mais para o final do ano eu repeti a iniciativa contra a violência contra a mulher. Peguei uma turma de primeiro ano para trabalhar e fizemos novamente aquela discussão sobre o livro Kindred, escrito por Octávia Butler. A resposta recebida foi bastante positiva com os alunos comentando sobre casos deles de violência contra a mulher e de preconceito sofrido na rua. Esta turma de primeiro ano em especial possui vários alunos leitores muito bons. Acho que essa é uma das poucas vezes que eu pego uma turma com tantos deles em um só lugar (eram 7 alunos). O resultado foi uma discussão instigante e gerou um cartaz aprimorado em relação ao do ano anterior. Deixamos o cartaz em exposição por uma semana e outras turmas puderam ver o trabalho deles.
O evento principal do ano ocorreu em outubro quando consegui levar a autora Ana Lúcia Merege até a escola para que ela pudesse fazer uma palestra cujo título era "Qual é a importância da leitura?". Apoio total da direção que nos forneceu as condições para trazer a autora, nos ofereceu o espaço e até mesmo o lanchinho. Com tanta coisa oferecida, não tinha como dar errado. Apesar de alguns contratempos causados pelo trânsito carioca, a autora deu uma palestra para vinte e cinco alunos vindos dos turnos da manhã e da tarde. Todos receberam a autora de braços abertos e ela teve uma interação linda com o público.
Fizemos um concurso de escrita para acontecer junto da vinda da autora. Colocamos duas categorias: poemas e contos. A temática era "Eu, Super-Herói?" de forma a que eles pudessem encontrar o heroísmo mesmo dentro de uma comunidade com tantos problemas sociais. O resultado foram 8 inscrições de poemas e 4 de contos. Deu um pouco de trabalho ajudarmos com a correção das histórias, mas foi muito satisfatório o resultado final. Tivemos até histórias que levaram nossa autora às lágrimas. Quero agradecer imensamente à Ana Lúcia pela vinda à nossa escola e pelo Erick Santos por nos enviar dois livros para entregarmos aos vencedores do concurso literário. Ou seja, a editora Draco participou de nosso evento de forma indireta. E só por isso, já fica o meu agradecimento à editora por sempre apoiar este tipo de iniciativa.
No final do ano tivemos as escolhas do PNLD Literário, um novo projeto do Ministério da Educação para o envio de materiais literários para suprir o acervo das bibliotecas. Tivemos duas categorias no PNLD: uma de acervo geral (com a escolha de 150 livros) e uma para trabalhos multidisciplinares (2 livros por série a serem entregues a cada um dos alunos). Foi uma seleção bastante democrática na nossa escola envolvendo principalmente os professores de Língua Portuguesa e este intrometido que vos fala. Entre os materiais multidisciplinares que eu tive o dedo, três são bem conhecidos de todos: Kindred, de Octávia Butler (publicada pela Morro Branco), Angola Janga, de Marcelo D'Salete (da editora Veneta) e O Ódio que Você Semeia, de Angie Thomas (da editora Galera Record). Isso significa que estes três livros estarão envolvidos em algum tipo de projeto a ser realizado na escola. Mas, tem um pequeno problema: o MEC ainda não enviou nenhum dos livros selecionados no PNLD. Parece que houve algum tipo de problema, dada a amplitude do projeto. Aguardemos.
Ufa... esse foi o ano de 2018 para mim. Atarefado, caótico, porém muito recompensador. Quando finalizei os projetos literários, senti uma enorme satisfação de dever cumprido. Fica aquela sensação de que foi possível sensibilizar nossos alunos quanto ao prazer da leitura. Esse ano já tenho mais projetos em mente e vou me envolver em inúmeras aventuras. Vou contar um pouco deles para vocês daqui a algumas semanas.
Tags: #incentivoaleitura #escola #cafeliterario #literatura #ler #livros #loucosporlivros #amoleitura #igliterario #pnldliterario #ensinomedio #literaturanaescola #ficcoeshumanas
Comments