Vamos falar um pouco sobre algumas altas ideias que Asimov traz para os leitores no segundo volume desta incrível série. Vamos falar de método científico, mercantilismo, racionalismo. Venham conferir!
Hoje eu gostaria de apresentar algumas ideias presentes no segundo livro da primeira trilogia da Fundação chamado Fundação e Império. Aqui já começa a ser um pouco mais complicado identificar alguns elementos históricos. Alguns são óbvios. Por exemplo, podemos perceber que Asimov quis conceber o Mulo como uma espécie de Napoleão Bonaparte ou Adolf Hitler. Um homem carismático, capaz de arregimentar tropas e leva-las até vitórias fabulosas com suas habilidades especiais. Lógico que, a ideia de ele ser um mutante é um sabor de ficção científica. Em vários momentos desconfiamos da sexualidade do Mulo. Para alguns biógrafos de Hitler, este era assexuado (ou seja, não teria interesse em mulheres). Hoje sabemos que admitir essa característica do líder nazista é muito complicado e faltam ainda fontes que corroborem o fato em 100% das vezes. A maneira como o Mulo é levado à derrota também é muito semelhante às expedições de Hitler e Bonaparte até a Rússia. Objetivo questionado pelos seus oficiais mais próximos (no livro foi Bel Riose quem questionou) e que no fim de tudo o levou a um caminho em direção à queda. Outro elemento claramente presente é o do nacionalismo. Comentei brevemente na resenha e queria desenvolver melhor. Ao longo do século XIX, várias nações europeias fortaleceram um espírito regionalista e nacionalista que era embrionário anteriormente. Por esse motivo, os enormes impérios que buscariam resgatar a glória do império romano caíram por terra. Esses nacionalismo vão surgir inclusive em nações já formadas como França, Espanha e Inglaterra. Temos aí o caso dos bascos, escoceses, dos lombardos e de vários outros. Esses nacionalismos vão fazer com que na obra de Asimov, Terminus tenha alguns de seus vizinhos colocados contra eles. Antigas nações conquistadas antes do declínio total do Império desejam ter sua liberdade de volta.
A sociedade de corte também é apresentada ao longo desse volume. O imperador Cleon II é cercado por uma série de ministros e conselheiros que precisam seguir toda uma série de maneirismos de etiqueta para poder atrair a atenção do imperador. Essa sociedade de corte alimenta as intrigas palacianas. Todos estão disputando quem será o favorito do imperador. Para ser o favorito, matar o seu rival não é uma estratégia de toda deixada de lado. Isso faz com que apenas um imperador forte seja capaz de manter essa sociedade de corte nas rédeas. Cleon II será o último imperador com esse naipe. Pude enxergar muito de Luis XIV na figura de Cleon II.
O momento em que Bayta e Toran discutam os rumos da guerra civil em Terminus levantam a discussão sobre a sociedade estática em que se encontravam os membros da Fundação. Percebo aqui comentários sobre o calvinismo. Onde a sociedade precisa buscar o esforço e o lucro para alcançar algo após a morte. O calvinismo incentivava a vida de mercador e fazia com que os fieis batalhassem para buscar melhorias na vida. Enquanto o cristianismo pregava uma atitude austera, o calvinismo pregava a ação para a conquista dos objetivos. Por esse motivo, foi uma religião adotada por muitos membros da burguesia europeia durante a Idade Moderna.
A noção de intelligentsia aparece também quando se refere a Ebling Mis. Isso me fez recordar dos pensadores socialistas do século XIX. Ebling Mis é um dos estudiosos que buscam melhorias para a estática sociedade de Terminus. E é alguém que acredita na existência da Segunda Fundação, um grupo de cientistas sociais responsáveis por fazer com que o plano de Hari Seldon não saísse dos trilhos. O século XIX é o momento em que as ciências sociais ganham mais adeptos. Para muitos é o berço da História, da Sociologia e da Psicologia. Ebling Mis referia-se a si mesmo como psicólogo, sendo que Seldon fez o possível para evitar que a psico-história se espalhasse em Terminus.
Na primeira metade de Fundação e Império, os métodos “mágicos” são questionados por vários membros do Império. Me fez lembrar o momento do Renascimento em que os estudiosos passaram a questionar o excesso de presença da religiosidade em suas vidas. Nem tudo podia ser definido como mágico. Cai por terra toda a invenção dos primeiros exploradores de Terminus que se utilizaram de uma série de rituais para amedrontar os planetas próximos.
Existem outros conceitos presentes na obra, mas prefiro deixar que os leitores aproveitem este segundo volume. Achei as ideias um pouco mais dispersas do que no primeiro volume, mas Asimov procurou manter uma linha de coerência com o livro de Gibbon, que foi seu inspirador. Lembrem-se que Fundação foi baseado em A história do Declínio do Império Romano de Edward Gibbon, um historiador do século XVII. Na segunda trilogia da Fundação, Asimov é mais livre para expor suas ideias, mas isso é assunto para uma outra conversa. Boas leituras a todos!!!
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