Depois destas eleições é tempo de recomeçar. De refletir sobre o que passou. Nestas linhas, procuro detalhar um pouco dos motivos pelos quais submergi nestes quase 90 dias e como devemos nos unir para ajudar a reconstruir nosso país.
Ser uma pessoa ética e correta é uma tarefa bem complicada no Brasil. Desde pequeno, meu pai me ensinou a ser ético nas minhas ações, honesto sempre que possível nos ambientes em que frequento e verdadeiro com os meus e aqueles que me cercam. Minha mãe também teve uma enorme contribuição na minha formação assim como o fato de ter tido professores maravilhosos ao longo de minha vida. Poderia passar horas falando da pessoa que me ajudou a conquistar o título de mestre, passando seus conhecimentos e valores, um professor ao qual tenho ótimas lembranças de tardes inesquecíveis ao sol da Unirio, no bairro da Urca, no Rio de Janeiro. Sim, sou filho da Unirio, que sempre prezou pela excelência, pelo diálogo, pela multiculturalidade. Tenho uma dívida até hoje com meu mestre, Paulo André Leira Parente, por nunca ter sequer tentado fazer um doutorado. Spoiler: casei, passei dos quarenta e não tenho saco mais para a academia. Sou uma pessoa que prefere a tranquilidade do meu lar, meus animais de todas as espécies de vertebrados (tenho anfíbios, répteis, peixes, mamíferos e pássaros). Foram 90 dias difíceis onde por mais de uma vez pensei em só desistir de tudo.
Vários de vocês vão dizer que os meus receios e as minhas travas são coisas da minha mente. Mas, me pauto pelo respeito às instituições. E, mais uma vez, volta o meu mestrado na Unirio: História das Instituições. No meu ambiente de trabalho, conversava sobre as minhas inclinações políticas apenas com meus colegas dentro da sala dos professores. Em momentos sempre quentes de debate e diálogo, procurando ao máximo evitar colegas bolsonaristas. Com estes, não há diálogo porque vivem em um mundo além da imaginação. Dentro de sala de aula, não dei um pio sobre em quem meus alunos e alunas deveriam votar. Isso é respeito. Não faço panfletagem em sala de aula. Respeito quem acha que deve fazer, mas da minha parte, nunca farei isso. Por mais que estivéssemos com nossas existências e liberdades contra a parede, jamais falei um ai. Diferentemente de outros colegas que assim o fizeram. Não só o fizeram dentro de sala de aula, como fora de sala de aula, como no dia de eleição. Ser professor não lhe dá o direito de interferir na liberdade de pensamento daqueles que são ensinados por nós. Por mais que não concordemos com eles. Tive vários alunos bolsonaristas, berrando aos quatro ventos o número do capeta. Nunca repreendi. Apenas respirava fundo e lamentava do fundo do coração que meus ensinamentos não chegaram em seu íntimo.
Fui primeiro mesário no primeiro turno e praticamente exerci a função de presidente de seção no segundo turno dada a inexperiência da presidente (cheguei a mandar a pessoa ir tirar uma hora longe da seção para evitar a fadiga). O TRE nos pediu em reunião que não expressássemos nossas preferências de voto dada a virulência das redes sociais e a agressividade das eleições de 2022. Compreendi e respeitei, como sempre respeitei as instituições. Postei meus pensamentos irritados até o primeiro debate entre presidenciáveis no primeiro turno e, quando houve a reunião do TRE, me calei. Para não dar nenhuma desculpa ao outro lado para contestar resultado de urnas. Até porque é burrice tal contestação, tamanha a segurança de todo o processo eleitoral. Quem vive esse processo nos dias que precedem o processo eleitoral sabe o quanto tudo é seguro. Mesmo assim, obedeci ao TRE. Não me posicionei mais e isso me doeu horrores. Só postei algo relacionado às eleições após o fechamento da minha seção.
Esse é o meu limite. Aliás, antes de mais nada:
VOTEI 13 NO 1º TURNO, VOTEI 13 NO 2º TURNO E VOTARIA 13 ETERNAMENTE PARA TIRAR O VERME DA REPÚBLICA.
E não só votei porque queria tirar o atual presidente do poder. Isso seria um erro. Votei em Lula porque Ciro me traiu em 2018. Acreditei nele, coloquei meu voto nele. No primeiro turno, era um cirista. Depois ele se revelou ser uma pessoa que não merece a minha confiança. Aquela viagem para Paris selou de uma vez por todas a minha posição sobre ele. Jurei nunca mais dar um voto sequer para o Ciro. Nem para síndico de condomínio. Tebet me surpreendeu no segundo turno, mas precisávamos do Lula. Coloquemos o homem no poder novamente e cobremos dele o que foi prometido. A luta social faz parte do processo democrático. O cidadão precisa aprender a cobrar aqueles que elegeram a cumprir o que foi prometido. Sejam eles deputados, vereadores, senadores.
Precisamos costurar de novo as relações nesse país. Sei que muitos de vocês são melhores do que eu nisso, porque:
EU NÃO PERDOO.
EU NÃO CONVERSO MAIS COM BOLSONARISTA
VOU ACUSÁ-LOS ATÉ A MORTE DOS 680.000 MORTOS.
Sou rancoroso. Sou vingativo. Infelizmente, quem não faz parte mais do meu círculo de amigos por causa de posições ideológicas, não volta mais para ele. Não tem papo. Sou educado e polido. Darei meu bom dia, minha boa tarde e o meu tudo bem regulamentar. Passou disso, darei minhas costas. Não ajudo. Não perdoo.
A doença nunca foi o Bolsonaro. Ele era um sintoma. A doença é toda essa cabala de lunáticos que votaram cegamente nele. Estes sim precisam de um exorcismo.
Posso parecer duro e sei que muitos de vocês desejam confraternizar, unir. Por isso, disse: vocês são melhores do que eu. E se você é leitor e bolsonarista, é mais paquiderme do que pensávamos. Não aprendeu nada com o que leu. Ou aprendeu torto e errado.
A partir de hoje retomo minha missão de formar leitores, difundir cultura e compartilhar conhecimento. Porque nosso país precisa de livros, e não de armas. Como professor, meu papel é formar agentes de transformação. E espero ser mais claro na maneira como ministro minhas aulas: ser libertário, progressista. E recuperar o amor que sentíamos uns pelos outros que foi perdido em algum momento.
Meu nome é Paulo Vinicius Figueiredo dos Santos. Sim, esse é o significado do meu F. Aquele Figueiredo, para quem conhece história. Isso... esse mesmo que você pensou. Um sobrenome que me envergonha e me constrange e evito usar a todo o momento. Não quero qualquer envolvimento com eles, não almejo envolvimento com eles. Só não mudei meu sobrenome e adotei o de minha esposa por respeito à minha mãe. Pertenço a um ramo secundário da família. Distante. Longe. Mas, meu pai foi contador a serviço de Leonel Brizola, na década de 1980. Minha família por parte de pai (aquela que eu detesto) tem vários membros das forças armadas. Sou Mestre em História Social pela Unirio, especialista em História da África e do Negro no Brasil. Minha tese é vinculada ao conceito de guerra justa na Idade Média. Sou especialista em teses agostinianas e medievais sobre guerra.
Apresentei-me o suficiente para vocês? Alguma dúvida sobre minha inclinação política ainda? Dúvidas sobre minha ética?
Agradecido. Viva o Brasil! Viva a liberdade! Viva Lula! E vamos juntos seguir em frente! (ou não tão juntos assim)
Concordo e muito com teu pensar, apenas seguiria diferente em sala de aula: também fui professor (temporário) durante monitorias quando cursei Magistério e depois Letras, então digo que no teu lugar iria falhar com a ética profissional e não deixaria de alertar meus alunos sobre a possível reeleição da execrável Direita. Mas entendo que você agiu de forma democrática. E que venham anos melhores com muitos retomando ou descobrindo o prazer da leitura. Aliás, parabéns por não aderir à febre de vídeos que vivemos. Percebi que você também publica suas boas resenhas nas avaliações Amazon.