Um grupo informal de editoras independentes vem ganhando destaque com iniciativas para tentar superar a crise do mercado editorial. Saibam mais aqui sobre o que é a Coesão Independente e quais são alguns de seus objetivos.
Já há algum tempo eu venho comentado sobre a importância de se fazer uma iniciativa conjunta para superar este estado de calamidade que se tornou o mercado editorial no Brasil. Não há como pensar em rivalidades ou disputas diante de um mercado que se tornou danoso às editoras. O calote feito por livrarias tradicionais como a Saraiva e a Cultura e o fechamento de outras como a FNAC e a Laselva ocasionaram um efeito dominó que tem atingido não apenas as pequenas editoras como as grandes. Eu já vinha apontando a necessidade de amadurecer, de pensar alternativas e de se unir contra isso.
E a Coesão Independente surgiu dessa necessidade de repensar comportamentos e encontrar soluções. A ideia partiu de Cid Vale Ferreira, uma pessoa que já passou por inúmeras editoras como a Atual, a Scipione e a Moderna. Ou seja, alguém que entende do meio como ninguém e compreendeu a necessidade de se fazer uma frente unida. Há algum tempo ele criou o sebo Clepsidra sediado em São Paulo, que acabou por se tornar ela próprio uma pequena editora investindo em títulos de terror. Na matéria publicada na PublishNews, ele comenta sobre as dificuldades que ele teve no momento de criação da editora Clepsidra. Vamos pensar o seguinte: ele é uma pessoa que entende de edição e revisão, e, de repente, se vê às voltas com a necessidade de buscar coisas específicas como gráficas, entender de papel, miolo. Quem imagina que uma editora é formada apenas por traduzir ou publicar material, não faz ideia de o quanto isso é o topo do iceberg.
Foi com essas perguntas que ele foi pedir ajuda a outros colegas. E pouco a pouco foi surgindo um pequeno grupo de editores no Whatsapp tentando se ajudar uns aos outros. A propósito: não é que a Coesão Independente seja um selo editorial ou um grupo de editoras. Nada disso. Esse grupo de editoras apenas decidiu oficializar algo que acontece informalmente. E vejam o naipe de algumas das envolvidas: Clepsidra, Balão Editorial, Draco, Morro Branco, Empíreo, Wish, Giz. Meus caros, se vocês não conhecem algumas destas editoras, deveriam. Não vou comentar sobre a Draco e a Morro Branco porque elas já são velhas conhecidas daqueles que nos acompanham. A Balão Editorial é uma das editoras mais progressistas na publicação de quadrinhos nacionais de qualidade. Quando Você Foi Embora, publicação da Ana Cardoso, é da editora e possui um belíssimo acabamento e tratamento. A Empíreo sempre foi referência na qualidade do material que apresentava, além de ser muito seletiva sobre quem pretende publicar. A Wish é a editora da Marina Ávila, que se tornou notória por produzir campanhas de sucesso no Catarse, além das belas publicações da editora como Os Cavaleiros do Inverno, da autora Cecília Reis. A Giz é uma velha conhecida do mercado independente, sempre apostando no diferente e saindo fora da caixa.
Desde o ano passado temos visto um movimento de editoras independentes e realizarem eventos em conjunto. Isso chama um público maior, além de apresentar autores de casas diferentes a fãs de outras editoras. Falei difícil? Simplificando: é como se eu apresentasse um autor de uma editora a todo um grupo de fãs que não o acompanham. Eventos desse naipe são uma vitrine de exposição. Podem ser eventos de gênero ou multifacetados, dependendo do objetivo final por trás do mesmo. Ex: no ano passado a Aleph e a Morro Branco organizaram um pequeno seminário no SESC Paulista onde abriram uma mesa de debates sobre o livro A Parábola do Semeador. Isso não apenas atraiu o público fiel da Morro Branco, como também trouxe pessoas ligadas ao movimento negro e fãs da Aleph para o evento, apresentando o trabalho da Octávia E. Butler a um público bem maior. No último sábado (dia 23) foi organizado um evento conjunto da Pyro, Clepsidra, Aetia e Diário Macabro para o lançamento de quatro materiais de terror simultaneamente. As quatro editoras compartilharam fãs nesse evento. Quem não conhecia o trabalho das outras, passou a conhecer. Essa troca é muito importante.
No dia 06 de abril que se avizinha, vai ocorrer um evento chamado Choque Literário, envolvendo todas as editoras da Coesão Independente. A ideia é organizar um evento onde materiais serão lançados, haverá stands de venda de livros a preços convidativos, mesas de debate e contato direto com os editores. É como se fosse o baile de debutantes da Coesão Independente. Vamos conhecer estas pessoas e saber o que elas planejam. Para as editoras que não fazem parte ainda da Coesão, é oferecido um formulário a ser preenchido que vai para a análise dos integrantes. Não há mensalidades nem nada. É um grupo de trocas onde o objetivo final é ajudar o mercado editorial.
Na minha modesta opinião, se trata de uma iniciativa fantástica e que pode gerar muitos frutos. Dentro deste grupo vamos ter pessoas muito experientes como o Erick Santos, editor da Draco que conhece o mercado como poucos. Frente a uma situação como a atual, talvez uma boa saída seja justamente um think tank, um grupo de pessoas pensando como encontrar soluções originais para um mercado já ultrapassado e que necessita urgentemente de renovação. Só tenho que aplaudir de pé a iniciativa e esperar bons frutos (alguns já estão aparecendo) e torcer por uma oportunidade de ver um evento como esse em São Paulo onde eu possa ver o que essas pessoas estão aprontando.
Informações:
Matéria da PublishNews sobre a Coesão Independente:
"Editoras independentes se reúnem em grupo informal"
Choque Literário
Data: 06/04/2019
Local: Associação Beneficente Provincianos Osaka Naniwa Kai (Rua Domingos de Morais, 1.581, Vila Mariana – São Paulo / SP)
Horário: 10:00 às 20:00
Formulário de inscrição para a Coesão Independente: Formulário
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